sábado, dezembro 08, 2007

Lembranças de Ilha Bela...

Piscina ao luar...
Rede olhando o mar...
E amar... E amar... E amar...

Ilustração: Angeli

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Carta Anônima - Caio Fernando Abreu

"Tenho trabalhado tanto, mas penso sempre em você. Mais de tardezinha que de manhã, mais naqueles dias que parecem poeira assentada aos poucos e com mais força enquanto a noite avança. Não são pensamentos escuros, embora noturnos. Tão transparentes que até parecem de vidro, vidro tão fino que, quando penso mais forte, parece que vai ficar assim clack! e quebrar em cacos, o pensamento que penso de você. Se não dormisse cedo nem estivesse quase sempre cansado, acho que esses pensamentos quase doeriam e fariam clack! de madrugada e eu me veria catando cacos de vidro entre os lençóis. Brilham, na palma da minha mão. Num deles, tem uma borboleta de asa rasgada. Noutro, um barco confundido com a linha do horizonte, onde também tem uma ilha. Não, não: acho que a ilha mora num caquinho só dela. Noutro, um punhal de jade. Coisas assim, algumas ferem, mesmo essas que são bonitas. Parecem filme, livro, quadro. Não doem porque não ameaçam. Nada que eu penso de você ameaça. Durmo cedo, nunca quebra.
Daí penso coisas bobas quando, sentado na janela do ônibus, depois de trabalhar o dia inteiro, encosto a cabeça na vidraça, deixo a paisagem correr, e penso demais em você. Quando não encontro lugar para sentar, o que é mais freqüente, e me deixava irritado, descobri um jeito engraçado de, mesmo assim, continuar pensando em você. Me seguro naquela barra de ferro, olho através das janelas que, nessa posição, só deixam ver metade do corpo das pessoas pelas calçadas, e procuro nos pés daquelas aqueles que poderiam ser os seus. (A teus pés, lembro.). E fico tão embalado que chego a me curvar, certo que são mesmo os seus pés parados em alguma parada, alguma esquina. Nunca vejo você - seria, seriam? Boas e bobas, são as coisas todas que penso quando penso em você. Assim: de repente ao dobrar uma esquina dou de cara com você que me prega um susto de mentirinha como aqueles que as crianças pregam umas nas outras. Finjo que me assusto, você me abraça e vamos tomar um sorvete, suco de abacaxi com hortelã ou comer salada de frutas em qualquer lugar. Assim: estou pensando em você e o telefone toca e corta o meu pensamento e do outro lado do fio você me diz: estou pensando tanto em você. Digo eu também, mas não sei o que falamos em seguida porque ficamos meio encabulados, a gente tem muito pudor de parecer ridículos melosos piegas bregas românticos pueris banais. Mas no que eu penso, penso também que somos meio tudo isso, não tem jeito, é tudo que vamos dizendo, quando falamos no meu pensamento, é frágil como a voz de Olívia Byington cantando Villa-Lobos, mais perto de Mozart que de Wagner, mais Chagal que Van Gogh, mais Jarmush que Win Wenders, mais Cecília Meireles que Nelson Rodrigues.
Tenho trabalhado tanto, por isso mesmo talvez ando pensando assim em você. Brotam espaços azuis quando penso. No meu pensamento, você nunca me critica por eu ser um pouco tolo, meio melodramático, e penso então tule nuvem castelo seda perfume brisa turquesa vime. E deito a cabeça no seu colo ou você deita a cabeça no meu, tanto faz, e ficamos tanto tempo assim que a terra treme e vulcões explodem e pestes se alastram e nós nem percebemos, no umbigo do universo. Você toca minha mão, eu toco na sua.
Demora tanto que só depois de passarem três mil dias consigo olhar bem dentro dos seus olhos e é então feito mergulhar numas águas verdes tão cristalinas que têm algas na superfície ressaltadas contra a areia branca do fundo. Aqualouco, encontro pérolas. Sei que é meio idiota, mas gosto de pensar desse jeito, e se estou em pé no ônibus solto um pouco as mãos daquela barra de ferro para meu corpo balançar como se estivesse a bordo de um navio ou de você. Fecho os olhos, faz tanto bem, você não sabe. Suspiro tanto quando penso em você, chorar só choro às vezes, e é tão freqüente. Caminho mais devagar, certo que na próxima esquina, quem sabe. Não tenho tido muito tempo ultimamente, mas penso tanto em você que na hora de dormir vezemquando até sorrio e fico passando a ponta do meu dedo no lóbulo da sua orelha e repito repito em voz baixa te amo tanto dorme com os anjos. Mas depois sou eu quem dorme e sonha, sonho com os anjos. Nuvens, espaços azuis, pérolas no fundo do mar. Clack! como se fosse verdade, um beijo."


...enquanto isso, na janela da cozinha...

segunda-feira, novembro 19, 2007

Senta que lá vem história....

2005 - Houve um concurso nacional de arquitetura para a realização de um museu em memória dos negros que lutaram na Guerra dos Farrapos (1835-1845). Conhecidos como Lanceiros Negros, eram a linha de fronte das tropas, com a promessa de liberdade no final da guerra, os lanceiros transformaram-se na vanguarda das tropas farroupilhas. Eram usados em missões arriscadas, pois tinham grande mobilidade. Lutavam a pé e a cavalo, portando lanças de três metros de comprimento. Quando havia munição, usavam armas de fogo. Atacavam gritando para intimidar o inimigo. Não usavam escudos. Para se proteger dos sabres e das lanças do adversário, enrolavam o poncho no braço livre. À medida que a guerra se aproximava do fim, eles se tornaram mais numerosos, tanto que no final havia dois corpos de lanceiros, totalizando mais de mil soldados. Esses bravos heróis foram dizimados numa emboscada próxima ao sítio de Porongos, no Rio Grande do Sul. Trata -se de um mitológico massacre ocorrido durante a Revolução Farroupilha (1835-1845) e bem escamoteado durante os anos.
Nós (Euclides Oliveira, Sidney Linhares, Dante Furlan e eu ) ganhamos o concurso.
2006 - Na cerimônia de premiação, lá no Rio Grande, depois dos hinos, brasileiro e gaúcho entoados com força, ouvimos emocionados e orgulhosos, que nossos nomes estavam cravados na história do país e do movimento negro.
2007 – Entre outras coisas, houve uma crise entre a secretaria dos direitos humanos - que é a responsável junto com a fundação Palmares nas negociações com governo federal e estadual para a realização do projeto - e o município. Parece que uma índia mordeu o nariz do secretário, ou prefeito, ou algum burocrata do gênero, lá em Porongos e por conta disso, os laços entre tais instituições ficaram abalados.
Ainda estamos esperando e torcendo para que a burocracia não empate o que seria o primeiro museu deste porte e importância, num local tombado e em processo de se tornar patrimônio histórico da humanidade....

As últimas notícias: Brasília, 12/6/07
- Em visita a sede da Fundação Cultural Palmares/MinC nesta segunda-feira (11), uma comissão de parlamentares, acompanhados pelo secretário Municipal da Educação, Cultura e Desporto de Pinheiro Machado (RS), veio formalizar junto ao presidente da Fundação Cultural Palmares, Zulu Araújo, pedido de inclusão de emenda para garantir a construção do Parque Memorial Lanceiros Negros, no Cerro dos Porongos, no interior do município. A Fundação Cultural Palmares/MinC, em conjunto com o governo gaúcho, prefeitura de Pinheiro Machado e Instituto dos Arquitetos do Brasil realizou concurso nacional para escolher o projeto arquitetônico do Parque Memorial.
O presidente da FCP/MinC, Zulu Araújo, se declarou muito satisfeito com a visita e assegurou a delegação gaúcha que está entre as prioridades de sua gestão entregar o Parque Memorial Lanceiros Negros para a comunidade gaúcha e brasileira. O empreendimento, disse Zulu Araújo, é de vital importância para a história negra brasileira (...)


Pranchas do projeto vencedor do concurso para o Memorial Lanceiros Negros; infelizmente em baixa resolução.


quinta-feira, novembro 15, 2007

Girassóis

A menina deixa
O vestido no varal.
Esquece a rima,
Solta o perfume,
Vai embora.
Sem nome.

A menina deixa
O vestido no varal.
Amarelo, florido,
Na madrugada.
Girassol.

A menina deixa
O vestido no varal.
Quebra a calha,
Espalha o mel.

A menina que deixa
O vestido no varal.
É muito mais
Do que um vestido
No varal.

homenagem singela aos 13 amados girassóis...vai lá: www2.uol.com.br/angeli

quinta-feira, novembro 01, 2007

Eu não falo japonês!

Agulha em barba de bode,
Miolo em pelo de gato.
Só quem sabe a Ode,
Comigo pode de fato!


A tradução do Haiku (Haikai em japonês) deve ser algo bem próximo disso, mas se desconfiar, vai lá, tem arte japonesa, feita por alguém que chama Maria Manuela (???!!!): http://www.mariamanuela.com/hem.htm

sábado, outubro 27, 2007

Foolish III

A cidade dorme
Pingos de luz
Me consomem

quinta-feira, outubro 25, 2007

Tic Tac ...

Tic Tac Tic Tac,
Esse barulho não para.
Setembro, Outubro,
Daqui a pouco verão.
Tic Tac Tic Tac,
Já é madrugada,
O ano acabou,
Tic Tac Tic Tac,
Que inferno!
Esse barulho não para...

quinta-feira, outubro 18, 2007

In memoriam

Foi em um belo domingo de sol, num desses muitos finais de semana gostosos que passei junto com minha mãe e que estão guardados na memória, um dos muitos felizes domingos no clube tão ternos e livres, que ganhei um beijo simplesmente inesquecível.
O tempo aos domingos era só meu e de minha mãe. Ela sempre de bom humor, me acordava cedinho com as maletinhas prontas para irmos ao clube. Tudo organizadíssimo, roupão, biquini, protetor solar super cheiroso, sandalinha e roupinha frugal para aproveitar um belo dia de sol. E naquele domingo específico, ela deixou eu convidar uma amiguinha. O paraíso! Garantia de um dia divertido.
No meio da tarde, tinha a hora da mistura coca-cola e cheetos, huuummmm…nada melhor do que aquela horinha em que os saquinhos de cheetos eram misturados com a coca cola e o sabor de cloro da piscina que ainda estava impregnado nos dedos. Era de lamber os beiços!
Quando anoitecia íamos sempre a um restaurante pequenino na vila madalena, próximo de onde morávamos para comer um dos meus pratos prediletos, gnocchi al sugo.
As recordações desses dias, os domingos no clube, são de dias perfeitos para mim, e vêm acompanhadas de um sabor de alegria. Piscina, amigos, lanche junk, mamãe por perto e um jantar dos deuses no final de tudo.
E foi num domingo como esse que, ao sairmos da cantina, encontramos com ele. Eu, então com 6 anos, encarei o que talvez tenha sido a primeira situação de enfrentamento entre minha timidez e minha admiração.
Tive um instante para decidir, será que valeria a pena ir até lá e me declarar ou deveria ser discreta e ir embora? Lembro de puxar minha mãe meio de canto e perguntar a ela o quê fazer. E ela, com um sorriso no rosto, decerto achando graça na filha pequenina, me encorajou a deixar a timidez de lado e confrontar o desafio que aquele instante apresentava.
Respirei fundo, atravessei o restaurante e decidida pedi licença `aquele senhor, que interrompeu sua conversa com um leve sorriso e ouviu o que deveria ser o milhonésimo quarto pedido de autógrafo. Para mim, o primeiro e penúltimo que pediria na vida.
Ele, muito gentil, respondeu perguntando se eu não preferia ganhar um beijo. Eu disse que sim, mas meio desconfiada quis saber o porquê, e ele prontamente explicou que um beijo seria muito melhor porque o papel eu certamente perderia, e o beijo eu poderia guardar para sempre. Aceitei a oferta, mas não contente quis também dar um beijo meu, em retribuição. Ele aceitou, soltou uma gostosa risada e aí sim, fui embora, feliz.
É claro que não entendia ainda a dimensão exata de quem era aquele senhor, e até duvidei um pouco daquela troca, afinal para uma criança, chegar na escola no dia seguinte com um papelzinho assinado pelo ator principal da novela, teria sido bem melhor. Mas, ele estava coberto de razão, e eu invariavelmente recordo daquele dia quando penso nos meus felizes domingos ensolarados.
Hoje lembrei de novo do beijo que me destes, e te ofereço aqui, um beijo meu em retribuição.

In memoriam, ao inesquecível Paulo Autran.

foto: “Um Deus Dormiu Lá em Casa” - 1949

quarta-feira, outubro 10, 2007

Saci Perereca

Sou mesmo endiabrada,
Desta vida quero tudo.
Tenho pressa!
Contudo,
Por vez acalmo.
Respiro fundo,
Contorno o mundo,
E de novo quero.























Ilustração: Angeli , para Sociedade dos Observadores de Saci.

sexta-feira, outubro 05, 2007

Elipse paraláctica.

Fino traço limite
Entre tudo que quero
E tudo que alcanço
Linha firme limítrofe
Livre no sonho
Arrebatada na Terra


poema: Carolina de Carvalho (2007); tatoo (para sempre...)

terça-feira, outubro 02, 2007

Reflexão Sobre a Reflexão

Terrível é o pensar.
Eu penso tanto
E me canso tanto com meu pensamento
Que às vezes penso em não pensar jamais.
Mas isto requer ser bem pensado
Pois se penso demais
Acabo despensando tudo que pensava antes
E se não penso
Fico pensando nisso o tempo todo.


texto: Millor Fernandes; foto : arquivo pessoal

quinta-feira, setembro 27, 2007

Portifólio

Em breve, num cinema perto de você.
Curta metragem, baseado em texto original de Angeli.

design do cartaz : Carolina de Carvalho - 2007

terça-feira, setembro 25, 2007

Foolish II

- Abram as janelas, desabotoem minha blusa, quero respirar.


texto: Patrícia Galvão; desenho: Carolina de Carvalho

sábado, setembro 22, 2007

Preciosa...

Preciosa Primavera!
Traz-me flores coloridas.
Brisas perfumadas.
Borboletas encantadas.

Preciosa Primavera!
De toque tão suave…
Feche os olhos,
Voe alto!
Não tarde a chegar,
Nem ouse passar.

Preciosa Primavera!
Mostre que as delícias
De um desassossego,
São mesmo saborosas.
E que és realmente,
Primavera Preciosa!

Foto: Fabricio Colvero; a Lua vermelha é um efeito causado por refração atmosférica; a noite de quase primavera a trouxe para a minha janela. poesia: Carolina de Carvalho - 2005

quinta-feira, setembro 20, 2007

Não escondo!

Não há essa destreza,
Na minha natureza.
Há sedução,
Ternura, beleza,
Imaginação, erotismo,
Sutileza.
Pra quem souber entrever...
Para quem não,
Ilusão.

terça-feira, setembro 18, 2007

Mais um

Hoje tem lançamento do livro Laertevisão, na Livraria da Vila, rua Fradique Coutinho 915, a partir das 19h. Estão todos convidados. Beijo

segunda-feira, setembro 17, 2007

Descrição de um Objeto Inanimado

Teve um dia que ganhei uma estrela. Era de papelão a estrela que eu ganhei. Recortada `as pressas. Era uma estrela, de papelão amarelo. A minha estrela… Teve um dia que ganhei uma estrela de 5 pontas. De papelão e de cinco pontas, amarelada e brilhante. A minha estrela recortada `as pressas num papelão tinha 5 pontas. A estrela que um dia eu ganhei era pequena e cabia na palma da mão. Brilhava o brilho do papelão e brilhava também o brilho do sorriso que ganhei junto com a minha estrela. O sorriso da estrela veio amarelado porque estava sem graça de ter recortado uma estrela tão pequenina num papelão tão `as pressas. Mas eu guardo com carinho esse sorriso da pequena estrela de cinco pontas recortada no papelão amarelado e brilhante. O sorriso lindo e amarelado de vergonha que acompanhava a estrela, eu guardo também na palma da mão. Porque o sorriso e a estrela não se separam, cabem os dois na palma da mão. E toda vez que penso na minha pequena estrela lembro do dia em que ganhei aquela estrela brilhante e sorrio um sorriso brilhante de papelão.


Foto: Vick B. Spencer, Ilha de Boipeba; texto: Escrevi para uma aula de produção textual. Minha professora e amiga disse que eu cometo um milhão trezentos e cinquenta e nove erros de pontuação por linha de texto escrito. Ela tem toda razão, e é por isso que e vai dar risada quando ler isto aqui.

terça-feira, setembro 11, 2007

Ícaro

Sem fala,
Sem calma,
Sou Ícaro.
Tenho asas, vôo ao Sol.
Para que as nuvens me devorem.
Com brinde e briho nos olhos,
E não me façam sangrar.

Há dois anos numa época primaveril, escrevi esta poesia...a primeira. Depois, fiz um primeiro livreto (que ainda não foi publicado ) impresso em papel jornal refilado manualmente e entregue a pouquíssimos amigos.

quarta-feira, setembro 05, 2007

Uma planta de água, que gosta de lugares calmos

Estudando um pouco sobre flores descobri que a flor-de-lis, tem origem controversa e significados diversos. Já foi símbolo de realeza, de poder e soberania, de pureza do corpo e da alma.
Alguns historiadores defendem que a flor-de-lis era usada em mapas para indicar o norte, Em 1302, o navegador italiano Flávio Gioja inventou a bússola como instrumento de navegação, adoptando a flor-de-lis (ou ponta de seta) para indicar o norte, em honra do rei de Nápoles Tradicionalmente, foi usada para representar a realeza Francesa, e seu sentido é de perfeição, luz e vida. A lenda diz que um anjo presenteou a Clóvis, o rei Merovingio dos Francos, com um lírio de ouro como símbolo de sua purificação por sua conversão ao Cristianismo. Outros dizem que Clóvis adotou o símbolo quando os lírios de água lhe mostraram o caminho para cruzar em segurança um rio e ganhar uma batalha..
Na Índia antiga, simbolizava a vida e a ressurreição. No Egito era um atributo do deus Horus, cerca de 2000 anos antes de Cristo.
Foi na década de 1890, que Baden-Powell adoptou a flor-de-lis usada nos mapas como insígnia (metálica) para certificar os militares (escoteiros) que completassem com sucesso um curso de exploradores que ele próprio criou.
Em espanhol flor-de-lis as vezes é escrita como "fleur-de-lys" ou "flor del lirio", Representando a flor de lírio, ou lótus, que fora imortalizado por Monet em sua série de pinturas “Nenúfar” .
O nenúfar também é chamado de lótus azul, nymphea, flor-de-lis sagrada das águas. Este nome teve origem na deusa das fontes, Nymphe. As ninfas costumavam brincar no meio dos nenúfares. Na mitologia grega, o nenúfar está ligado às virgens. Para os egípcios, o nenúfar fazia parte do nascimento do mundo, juntamente com o deus sol e o deus Osiris. No budismo, diz a lenda que Brahma nasceu de uma flor de lótus que teria crescido no umbigo de Vishnou.
Descobri, contudo que a verdadeira flor-de-lis: trata-se da Sprekelia formosíssima, uma representante da família das Amarilidáceas, originária do México e da Guatemala. Conhecida em outros idiomas como lírio-asteca, lírio-de-Saint-James (St. James lily), lírio-de-saint-Jacques (Lis de Saint-Jacques) a Sprekelia formosíssima é a única espécie do gênero.
Por que estou escrevendo isso? Sei lá... Acho que lembrei de Clarice...
"É um nome latino, né, eu perguntei para o meu pai. Desde quando havia Lispector na Ucrânia? Ele disse que há gerações e gerações anteriores. Eu suponho que o nome foi rolando, rolando, perdendo algumas sílabas e se transformando nessa coisa que parece 'LIS NO PEITO', em latim: flor de lis"

sexta-feira, agosto 24, 2007

Primavera - Cecília Meireles

"A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.
Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.
Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.
Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.
Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.
Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.
Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.
Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.
Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera."




texto: "Cecília Meireles - Obra em Prosa - Volume 1", Editora Nova Fronteira.
foto: Em folha de papel, inseto descoberto durante expedição do biólogo Mario Cohn-Haft pela floresta amazônica.


quarta-feira, agosto 22, 2007

Eu só quero chocolate....












Meus sonhos são estrofes.
Três versos,
Um pensamento.
Outros são Lusíadas,
Poemas inteiros.
Há os que tenho acordada.
Ou serão só devaneios?
Por estes minha alma canta,
Os procuro o ano inteiro.

foto: ai que vontade que dá; poema: Carolina de Carvalho - 2005

terça-feira, agosto 21, 2007

O país das neves – Yasunari Kawabata

O céu das montanhas mais distantes ainda guardava os resquícios da vermelhidão do pôr-do-sol. Por isso, bem longe, os contornos da paisagem através do vidro da janela ainda continuavam nítidos, mas já sem cor, e as montanhas infinitamente monótonas pareciam mais triviais. Por não haver nada mais atraente, tudo aquilo tornava-se um imenso refluxo de emoção anuviada, obviamente porque ele imaginava o rosto da moça flutuando neste quadro. Não era possível ver o outro lado da janela na parte em que a figura dela se refletia, mas como a paisagem ao entardecer se movia ao redor do contorno da moça, o rosto dela também parecia translúcido. Se era ou não, ele não foi capaz de distinguir, pois lhe parecia que a paisagem do crepúsculo que continuava a passar por trás do seu rosto estava em frente a ele.
Como o interior do trem não era muito claro, aquele espelho não era tão nítido quanto deveria ser. Ele não refletia bem as imagens. Por isso, enquanto olhava compenetrado, foi se esquecendo da existência do espelho e começou a pensar que a moça flutuava na paisagem do entardecer.
Foi nesse momento que os raios de sol. Já tênues, iluminaram o rosto dela. O reflexo do espelho não era suficiente para apagar a claridade de fora, nem esta, forte o bastante para ofuscar a imagem refletida no espelho. A claridade passava como um relâmpago pelo seu rosto, mas não era suficiente para iluminá-lo. A luz era fria e distante. No momento em que o contorno de sua pequena pupila foi se iluminando, como se os olhos da moça e a luz se sobrepusessem, seus olhos se tornaram um vaga-lume misterioso e belo que pairava entre as ondas da penumbra do cair da tarde.


Orelha: “Prêmio Nobel de 1968, Yasunari Kawabata é considerado um dos representantes máximos da literatura japonesa do séc XX. Ao contrastar o ritmo harmônico da natureza e o turbilhão da avalanche sensorial, forjou insólitas associações e metáforas táteis, visuais e auditivas que surpreendem por revelar os processos de fragilização do ser humano diante do cotidiano, numa composição surrealista de elementos da cultura e filosofia orientais, personagens acuados e cenários inóspitos. Sua obsessão pelo mundo feminino, sexualidade humana e o tema morte renderam-lhe antológicas descrições de encontros sexuais, com toques de fantasia, rememoração, inefabilidade do desejo e tragédia pessoal. Doente e deprimido, Kawabata suicidou-se em 1972.”
...

Não deixe de ler : “Mil Tsurus” e “A casa das belas adormecidas” (livro que inspirou Garcia Márquez a escrever “ Memórias de minhas putas tristes”) .

título original : Yukiguni ; editora: Estação Liberdade; tradução: Neide hissae Nagae capa: Midori Hatanaka

sexta-feira, agosto 17, 2007

Foolish

Já peguei fogo,
É tarde para apagar.
O mar está em chamas,
A lua não vai ajudar.











Foto: A Noiva Cadáver ; Poesia: Carolina de Carvalho (2005)

terça-feira, agosto 14, 2007

Hope you guess my name...

Cada vez que vejo uma coisa espetacular tenho o ímpeto de fazer, aprender ou ser aquilo. Dançarina, musicista, pintora, escultora, muralista, trapezista, a lista é interminável. Tudo me encanta, e penso que seria divertidíssimo saber fazê-las ou sê-las.
Talvez isso seja uma falta de caráter, afinal quero ser tudo ao mesmo tempo; mas também pode ter uma explicação puramente técnica, descobri que, este fenômeno se dá por conta dos 7 nomes que tenho. Explico.
Sou fruto de uma mistura tremenda, tenho genes de guerreiros índios, de lordes ingleses, dos quatrocentões (quinhentistas?) portugueses, e do delicioso e festivo povo da bela Itália. Até aí nenhuma novidade para uma brasileira.
Só que a mistura é tanta que, quando pequena pensava em acrescentar ao nome os sobrenomes da família toda. E como a doideira vai crescendo junto com a gente…
Agora, para cada coisa que faço, vou adicionando os sobrenomes, mudo conforme o humor ou situação. Sabe aquela coisa de "tenho sete namorados…" Brinco com os 7 e fico nessa:
- Qual nome combina melhor se resolver ser chef d'cuzine? E dançarina clássica? ...
Acho um mais bacana, outro menos comum. São tantos. Os 7 coadjuvantes possíveis para mim. (Guaycurú, Lagden, Motta, Mello, Baroni, Fusco e Bocchini)
Outro dia, remoendo coisas em gavetas, achei uma preciosidade, com a letrinha já toda engruvinhada, apareceu na minha frente um papel amarelado, com a seguinte frase “ Use e faça-se conhecer” e um sobrenome. A letra inesquecível é da minha avó Ana. Mãe de minha mãe. A vó, foi a responsável pela minha volta de um país ancestral, e por consequência, responsável indireta pela vida que tenho o privilégio de viver. Mas essa é outra história…
E assim, escrevendo essas linhas despretensiosas, me dei conta que a tormenta é ainda maior, porque na realidade, são 8 os sobrenomes! Na brincadeira esqueci do meu nome patronímico, e lá veio a lembrança para me tirar das trevas do esquecimento, “ USE…” .
É simples, comum, e combina comigo. Da onde veio eu não sei, acho que é cristão novo, todos os nomes de árvore o são. Pra onde vai, acho que ela, minha amada avó Ana, saberia dizer. Quem sabe um dia…Muito prazer, sou Carolina, de Carvalho.

sexta-feira, agosto 10, 2007

Bravo! Bravo!

Ontem eu fui ao show da minha amiga, Bel Garcia, show que merece ser comentado e principalmente, divulgado.

A noite já começou legal, com o William, o porteiro super simpático da cena descolada do mundo moderninho da vila madalena, que deixou a gente entrar e sair do lugar e ainda fez desconto bacana no precitcho. Depois, apareceu o simpaticíssimo barman, um negão todo estiloso com algo que parecia ser um dread esquisofrênico no cabelo, cumprimentando em espanhol, “Ôla Chica! Que tal!...” Não entendi se ele estava querendo se mostrar ou achou que eu, toda de negro e de pernas de fora era uma espanholita perdida no frio de Sampa… Já estava me sentindo em casa, com amigas queridas, tomando cerveja e dando risada.
Foi aí que a música de verdade começou. Uma versão de Ordinary Life, música de seu primeiro cd, o Bluebell. Na segunda música a espinha arrepiou, fiquei emocionada e fui ouvir de braços dados com minha amiga Julia. Nós, que já havíamos percebido a diferença de qualidade, o salto incrível da banda toda, que veio com nova formação, fomos só enchendo mais e mais o peito de orgulho e alegria!
Lá pela quarta ou quinta canção, uma versão de “ Dê um Rolê ” que todo mundo conhece na voz de Gal Costa. Aquela que diz, “ Eu sou Amor, da cabeça aos pés…Eu, sou, Eu sou Amooorrr ….” E foi! A energia que se deu a partir daí foi espetacular. Belzinha cantou lindo, lindo. Afinal ela é! E eu escutei sendo, afinal também sou, da cabeça aos pés...! As lágrimas vieram aos olhos. Ela arrepiou! Se entregou, desencanou do nervosismo, e mostrou a que veio!
A participação especial do Dadi ( um Forest Gump da música brasileira, como disse a Bel) e um som de cello, deram um brilho especial, acompanhados de Pedro Baby, o
guitarrista… só o que posso dizer é : Vai tocar bem assim lá no quinto dos infernos rapaz! Puta que pariu! Muito bom! Delícia de som! A banda estava radiante. A empolgação na hora da música “My Generation” disse tudo. Coro… solo… luzes… som…vibe… porrada! E pronto.... Acabou-se o que era doce…
Essas foram as minhas impressões
. Achei delicioso! Adorei! Cheguei em casa querendo que todo mundo tivesse ido, ouvido e visto! Então só o que posso fazer é avisar que quinta feira (16.08) tem mais! Aproveitem enquanto não custa uma fortuna, sim, porque o Carneguie Hall a espera, sem dúvidas!! E tenho dito!


Vai lá: Bluebell no Studiosp ou http://www.myspace.com/bluebellmusic ; www.slowmotionballet.blogspot.com/

terça-feira, agosto 07, 2007

Silêncio...

Shhh… Não digas nada…
Sou frágil, delicada.
Shhh…Não venhas agora
Com essa voz me entorpecer.
Demore mais um pouco,
Espere adormecer.
Shhh…Não digas nada…
Deite ao meu lado.
Traz me o amanhecer...
Shhh…Não digas nada…
Deixe o silêncio envolver.
Shhh…




Phil Hansen– Detalhe de Madre Teresa (2006) – 101x53cm; Flores dente de leão fotografadas; www.philinthecircle.com ; poesia: Carolina de Carvalho (2005)

segunda-feira, agosto 06, 2007

O Aviso...














Não ouse cruzar este caminho.
Terás a boca inebriada,
A carne extasiada,
A alma diluída.

Não ouse cruzar este caminho,
De fogo, salivas,
Escamas e deleites.

Não ouse cruzar este caminho!
São infinitos sabores,
Sangue, vísceras
Venenos e amores

Não ouse cruzar este meu caminho!
Não tem retorno!
Não ouse…

foto: espetáculo do circo FUERZA BRUTA, http://www.fuerzabruta.net ; poesia: Carolina de Carvalho (2006)

quinta-feira, agosto 02, 2007

Um instante…

Rasgo meu peito,
Abro meu tórax,
Pulsa meu vibrante dorso nu,
Em carne viva.
Em seguida,
Morro.




M. C. Escher - Eye (1946) - Mezzotint - 31.9x31.7cm; Poesia: Carolina de Carvalho (2006)

segunda-feira, julho 30, 2007

À espera da tarde tranquila...

Na beira do rio,
Colorido,
Perfumado.
Peixes dourados,
Encantados,
Iluminam o Sol.



foto: acervo pessoal, Lisboa; poesia: Carolina de Carvalho (11/2005)

terça-feira, julho 24, 2007

El Milagro Del Desierto Florido

No deserto do Atacama,
Chove 0,6 mm por ano.
A cada década,
As flores mais diversas,
Sem espinhos; sem mato;
Só caule e cor.
Enfeitam o deserto,
Num só ato.

foto: De alguém com muita sorte; poesia: Carolina de Carvalho (16.10.2005)

sexta-feira, julho 20, 2007

Chega de Retratos

Sabe aquelas coisas que te caem no colo sem pedir licença e transformam a vida? O texto desta canadense nascida em 1939, é assim.
Conheci esta senhoura num jantar, na Festa Literária de Parati, acho que em 2003 ou 2004, sou ruim que só para datas, não importa, o fato é que..Sim! Eu jantei com Margaret Atwood! E isto estou contando só para que morram de inveja, porque além de ser uma simpatia, a Mina é Fodona! Assim mesmo, escrito em maiúscula. Daquelas que a gente quer ser quando crescer.
Foi ela a ganhadora do prêmio booker em 2001. Não que eu saiba a importância de um prêmio desse porte na vida de um mortal, sei que, quem não a conhece está perdendo, e muito!

Chega de Retratos - Por Margaret Atwood

Chega de retratos. Já existem em número suficiente. Chega de sombras de mim mesma impressas pela luz em pedaços de papel, em quadrados de plástico. Chega de olhos, bocas, narizes, humores, ângulos ruins. Chega de bocejos, dentes, rugas. Eu sofro com minha própria multiplicidade. Duas ou três imagens seriam suficiente, ou quatro, ou cinco. Isso teria permitido uma idéia firme: Esta é ela. Desse jeito, sou aquosa, ondulo, a todo momento me dissolvo em meus outros eus. Vire a página: você, ao olhar, fica de novo confuso. Você me conhece bem demais para me conhecer. Bem demais não: demais.

capa: A Tenda; desing de capa: Atwood e Webb; Editora Rocco; e eu não pedi autorização para reprodizir...segredo!

quinta-feira, julho 19, 2007

Sucumbo... Sucumbes... Sucumbimos!

Há alguns anos tenho vontade, muita vontade de escrever, e escrevo.
Mas mostrar são outros quinhentos! Mostro para poucos e sempre para amigos. É aquela velha história, amigos lêem alguns textos, dizem coisas gentis, e acabam por me impulsionar a escrever mais. O meu problema, além de nunca lembrar as regras básicas da boa ortografia, está em mostrar as vísceras em público, e ainda para um público completamente desconhecido e por vezes anônimo. Isso aí é coisa para gente grande, acho eu. Só que ultimamente o Namorado tem me convencido de que já sou bem grandinha, e mesmo sabendo que certamente ficarei obsessiva pensando no que postar aqui, ele insiste para eu explodir tudo o que vem na cachola.
Então, depois de algum tempo, alguns percalços, e muita ladainha, estou quase convencida de que talvez tenha certo talento para a escrita. Entre a úlcera e o desatino, me vejo sem escolha. Agora, ou deixo de ser uma mulher incrédula ou descubro de vez que esse papo de talento é coisa de coelhinho da páscoa. Até certa idade a gente acredita que existe, depois só comprando a 5 pilas na vendinha da esquina. Por fim, sucumbo `a tentação…

segunda-feira, julho 16, 2007

O Porquê.


Fiquei pensando num porquê bem bom para fazer um blog. Tinha que ser um porquê daqueles, do tamanho do mundo! Sabe? Fiquei dias e dias atrás de um porquê pra coisa, e o porquê vinha cada hora de um jeito, de um formato. `As vezes colorido, `as vezes perfumado e depois ia embora sem dizer porque era um porquê que valia a pena.
Aí pensei que um porquê pequenininho também servia. O que importa é que eu teria um porquê! Só que os porquezinhos também sumiam, um por um.
Na última curva, chegou um de mansinho, e lascou a sentença: - Escreve e pronto.
Se isso é um porquê, eu não sei, mas também não vou ficar esperando ele ir embora pra descobrir…
Bem Vindos !

Henri Matisse – Figura Decorativa Sobre Fundo Ornamental (1927) – 130x98cm; Acervo Museu de Arte Moderna, Paris.