terça-feira, janeiro 29, 2008

Ficção

O homem parado na minha frente havia tirado de dentro de uma bolsinha de couro, já envelhecida pelo tempo, uma pinça metálica. Pequena e de pontas semi-afiadas. Delicadamente levantou minha blusa e beliscou, com a ponta da pinça, uma pinta de nascença do lado direito do meu ventre. Foi no mesmo instante em que senti um cheiro de flores invadindo o ambiente, um cheiro doce e forte.
O homem, que tinha a barba cerrada e amarelada, tirava de dentro mim um botão de flor,incandescente. Suas pétalas tinham na base um colorido lilás e azulado fosforescentes. O centro do botão era transparente e a medida em que olhava para o vértice, o amarelo alaranjado crescia, faiscando raios finos e infinitos que iluminavam todo o ambiente. Era um botão de flor e de fogo.
Ouvi passos apressados subindo as escadarias do lado de fora do quarto onde estávamos. Um quarto escuro, pequeno e úmido. As tábuas do teto quase despencando, indicavam que o local estava abandonado há algum tempo. O som dos passos era pesado, seco. Logo imaginei homens escondendo seus rostos em capacetes negros e em fardas, também negras, cheias de apetrechos de guerra e armas com lanternas nas pontas que iluminavam os corredores, em frenesi, e vinham em nossa direção.
A voz estrondosa do homem de barba amarela penetrou em meus poros: “Você está a salvo, fuja pela escotilha, eles virão atrás da flor.”
Pressionei meus lábios aos dele, com a força de quem não iria encontrá-lo tão cedo. Ele sorriu, nos abraçamos e fugi, em tempo de ouvir. “ Você é meu anjo….”.
Tentei guardar na memória o sorriso protetor daquele homem misterioso, aquela sensação de segurança. Subi por uma pequena escotilha incrustada no teto imaginando o que aconteceria com meu protetor e o quê, na realidade, seria aquela flor incandescente.
O barulho que se seguiu foi tão forte que não tive tempo de perceber se era do teto que havia desabado, ou se eram as armas dos homens de capacete. Pensei se estaria mesmo em segurança e no que poderia acontecer `aquele homem…

Acordei com o suor atrás do pescoço, escorrendo lentamente. A cama tremia numa intensidade tal, que demorei um tempo para entender que tudo não passara de um sonho. Cerrei os olhos, esfregando o dorso da mão, num gesto infantil.
Flashes de luzes brancas, pequeninas e brilhantes se formaram na pupila, turvando a visão que demorou a voltar e definir o desenho do quarto onde estava. Apoiei a cabeça na parede fria atrás da cama, o suor continuou a escorrer, agora pela coluna toda, arrepiando o corpo.
O aroma de flores invadiu o apartamento, uma mistura de jasmim e rosas, o mesmo aroma doce e forte do sonho. Levantei de sopetão e fui em direção `a cozinha. A chaleira em cima do fogão apitava, o vapor quente saia de dentro dela, olhei para meu ventre e a pinta de nascença continuava lá, intacta.
Ouvi alguém atrás de mim : “ Você é meu anjo.”
Ao virar, vi aquele mesmo homem de barba, o mesmo sorriso terno. Só que desta vez, ele trazia um pequeno papel em suas mãos. Estava escrito: “Positivo”


Chá de Rosas: 4 xícaras (chá) de água; pétalas de 6 rosas; 1 colher (café) de água de rosas;
Coloque a água numa chaleira e leve ao fogo alto. Quando ferver, coloque as pétalas e deixe por 5 minutos. Retire e junte a água de rosas. Adoce à gosto e sirva imediatamente.


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