quarta-feira, dezembro 03, 2008

Azul

Despertou com as folhas esparramadas pelo chão de madeira. O sol refletia no rosto o sal de mar. Veleiros exibiam balões coloridos e enfileirados. Mostravam o rumo que o olhar deveria seguir. O silêncio definia o tom exato de seu delírio. Só o suor escorrendo pela face dava algum sinal de que suavemente ainda vivia.
Era sexta – feira. Sabia disso porque o jornal que não fora totalmente carregado pelo vento marcava em seu cabeçalho, “sexta – feira”. Na memória, ainda turva, um sabor adocicado. Cerrou os olhos com a esperança de focar a lembrança em um gesto, um movimento. Buscava exatidão.
Uma pequena borboleta pousou levemente em seu peito. Era azul. Suas asas tinham desenhos simples e simétricos que remetiam `aquelas brincadeiras infantis em que se usam bolômetros na busca de círculos perfeitos, um dentro do outro, infinitamente, um dentro do outro, insistentemente, formando mandalas.
Inspirou. Num movimento lento, encheu o peito e assoprou em direção `a delicada borboleta. Sussurrou para que voasse alto e conseguisse, daquele sopro, retirar a energia necessária para viver um pouco mais do que os sete dias `a que estava predestinada.
O gosto de sangue instalado na garganta não deixava margem `a enganos. As palavras corajosas ditas em meio as lágrimas tomaram forma em seus ouvidos como cortes precisos de navalha, finos retalhos em seus poros. Fundos porém gentis. Lembrou do beijo derretendo em seus lábios. Desta vez, fechou os olhos com mais força e pôde sentir a linda borboleta voar em direção ao mar.
Os veleiros não mostravam mais suas cores. Suas velas, agora brancas e em riste, confundidas ao horizonte, não permitiam distinguir o que era céu, o que era água, o que era azul.
Só o suor escorrendo pela face dava algum sinal de que suavemente ainda morria.



foto: Shark - http://www.charquinho.weblog.com.pt

7 comentários:

laura caselli disse...

conhece sim. a própria.
lembrei de uma conversa num café,
em que você falava sobre os 30 anos. bem, eles estão aqui. beijos

carol disse...

Que bueno bela!...pausa para um outro café...! beijo

Unknown disse...

ADOOOREI !!! Babo mesmo, e daí?
Mu Tu.

carol disse...

Mutu também!

Anônimo disse...

mu tu????? aqui o meu português acabou, não percebeu nada.

carol disse...

Acho que o seu e o de todo mundo! É que isso é uma piada interna..um jeitinho de falar só nosso...fomos do "amo você", brincamos e passamos para o "amo tu" e daí pro "mutu", foi um pulo..coisa de mãe e filha...beijo

Anônimo disse...

aaaaa fiquei mais aliviada. estou habituada com a gíria do brasil (do brasil não, do rio de janeiro) mas mutu foi demais :) gíria de mãe e filha, que giro...